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Povoado calcolítico de Alcalar (Portimão)

Povoado calcolítico de Alcalar (Portimão)

As prospecções geofísicas realizadas em extensão e as escavações arqueológicas (embora estas tenham sido apenas efectuadas em áreas pontuais deste vasto sítio arqueológico) permitem já, no entanto, uma primeira abordagem à organização doméstica, às práticas de produção e aos modos de vida das comunidades implicadas na construção do Povoado Calcolítico e dos Monumentos Megalíticos de Alcalar, bem como ensaiar uma interpretação da paisagem cultural do 3.º milénio a.C. no território envolvente.

Túmulo Megalítico de Alcalar

Na foto: Túmulo Megalítico de Alcalar (CMP)

A organização doméstica, as práticas de produção e os modos de vida das comunidades implicadas na construção do Povoado Calcolítico e dos Monumentos Megalíticos de Alcalar, podem ser interpretadas com base nas prospecções geofísicas realizadas em extensão e nas escavações arqueológicas (embora estas tenham sido apenas efectuadas em áreas pontuais deste vasto sítio arqueológico). Os dados obtidos permitem igualmente interpretar a paisagem cultural do 3.º milénio a.C. no território envolvente.

No Povoado Calcolítico, as áreas de vivenda e de armazenagem ocupam um cabeço amesetado que se destaca sobre as várzeas envolventes. Um conjunto de trincheiras ordenava uma superfície habitada presumivelmente reservada a uma elite dirigente do território de Alvor-Monchique, cujos recursos o povoado centralizava.

Na plataforma superior do povoado calcolítico evidencia-se um agrupamento de vivendas, cada uma delas aparentemente polarizada numa cabana, espaço coberto de descanso, preparação e consumo de alimentos em torno do qual se dispõem equipamentos para captação e reserva de água (canais e tanques) e fossas de arrecadação de produtos consumíveis. Pelo facto de terem o chão mais baixo que a área exterior envolvente, as cabanas preservaram durante milhares de anos a sua estrutura interna praticamente intacta, com pavimentos e lareiras conservadas sob os escombros das paredes e da cobertura, construídas em madeira e argila sobre um embasamento de alvenaria de pedra. A raridade da arquitectura destas cabanas no 3.º milénio a.C. na metade sul da Península Ibérica acentua a relevância patrimonial dos exemplares conservados em Alcalar.

Essa zona de vivendas, que ocupava uma posição privilegiada na área central do habitat, é envolvida concentricamente por uma faixa com numerosas fossas-silos de armazenagem, constituindo uma vasta zona de celeiro, que por sua vez aparece rodeada por cercas múltiplas — correspondentes, na sua maioria, a trincheiras que seriam acompanhados de taludes de terra, paliçadas e muros de pedra — cujo traçado regular confere um ordenamento «urbano» ao habitat.

Funcionando como um local de armazenamento e de redistribuição dos recursos, esta «aldeia», com uma extensão excepcional para a época, permitia às comunidades do território, dedicadas ao trabalho da terra e aos ofícios, aceder a diversos produtos, diferentes daqueles que elas próprias produziam. O povoado prolongava-se para cotas mais baixas e estendia-se até uma vasta necrópole monumental, com vários agrupamentos de edifícios tumulares monumentais e áreas cerimoniais conexas, a qual constitui com o habitat uma só unidade orgânica e que sublinhava a excepcionalidade deste lugar.

Fonte: Direcção Regional de Cultura do Algarve