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Sepultura neolítica do Cerro das Cabeças (Enxerim)

Sepultura neolítica do Cerro das Cabeças (Enxerim)

Sepultura neolítica do Cerro das Cabeças

Enxerim - Silves

 

É uma estrutura escavada no solo, contendo material arqueológico diverso. Trata-se de uma sepultura, em forma de silo, que guardava os restos de, pelo menos, duas inumações, uma delas associada a três artefactos.

Os testemunhos humanos melhor conservados, colocados em posição contraída e em decubitus lateral, com a cabeça voltada para norte, os pés na direcção oposta e a face dirigida para nascente, pertenciam a indivíduo adulto jovem, do sexo masculino. Estes eram acompanhados por pequeno punhal de osso, por bracelete de Glycymeris bimaculata (Poli, 1795), enfiada no antebraço esquerdo, assim como por longa lâmina, de calcário silicioso, colocada frente à face.

Trata-se de estrutura, de espólio e de ritual funerário, tardo-neolíticos, com paralelos, ainda que mal caracterizados, no Algarve ou na Península de Lisboa.

Um fragmento de costela humana, mostrando seccionamento rectilíneo, e porções de diáfises de ossos longos, contendo finos cortes paralelos, denunciam comportamentos, de carácter ritual, ainda pouco conhecidos.

Os restos de sepulcro situam-se no denominado Cerro das Cabeças (assim conhecido por apresentar três relevos), mais precisamente perto do topo da vertente voltada a oeste da elevação localizada no seu lado poente, a cerca de 1 km nordeste da entrada na cidade de Silves, que se faz a partir da rotunda existente junto à bem conhecida Cruz de Portugal.

Um fragmento de calote craniana, restos de outros ossos humanos e longa lâmina de pedra lascada deram entrada no Museu Municipal de Arqueologia de Silves, em Fevereiro de 1993.

O local pertence à freguesia de Nossa Senhora da Conceição, no concelho de Silves, distrito de Faro.

Para sul situa-se o longo planalto litoral, com substrato formado por calcários e margas, onde existem vastas áreas cobertas por areias plio-plistocénicas e onde se detectaram diversos assentamentos humanos, pré e proto-históricos, do Paleolítico à Idade do Ferro, como de idades ulteriores.

O substrato rochoso da zona onde se descobriram os restos da sepultura, agora dados a conhecer, é formado por margas e calcários margosos, do Jurássico, brandos e, em geral, com cor clara.

No parco acervo recuperado no sepulcro do Cerro Cabeças, a bracelete de Glycymeris aufere de particular interesse para a caracterização cronológica e cultural daquele.

Foi J. B. da Silva Lopes (1848, p. 124) quem, pela primeira vez, chamou a atenção para a importância arqueológica do Cerro das Cabeças, nos seguintes termos: “D’este lado oriental da cidade, e distante d’ella hum quarto de legoa, ha um cerro da parte opposta á ribeira do Enxerim, chamado o Monte das Cabeças, onde apparece hum sem conto de reliquias de sepulturas de pedra ruiva, e muitos ossos, o que da a presumir que por alli houvesse algum cemiterio (…)”2.

Tais testemunhos devem corresponder a necrópole medieval, hoje desaparecida, enquanto a sepultura agora dada a conhecer e a presença dos três artefactos anteriormente referidos, indicam conjunto arqueológico datável nos últimos tempos do Neolítico Final, ou seja na segunda metade do IV milénio a.C. São bem característicos daquele período, em termos crono-culturais, a longa lâmina de sílex, sem retoques, assim como a bracelete de Glycymeris, enquanto o punhal de osso constitui artefacto mais raro, embora o trabalho naquele material se tenha desenvolvido durante o Neolítico Final e no Calcolítico, idades onde encontrámos os principais paralelos.

A lâmina de pedra lascada, de bordos paralelos e sem retoques, da sepultura do Cerro das Cabeças, é formalmente semelhante a outras, exumadas tanto na sepultura ortostática de Alcalar (mon.1) (Portimão), como nas tholoi da mesma necrópole, ou, ainda, no sepulcro tardo-neolítico da Pedra Escorregadia (Vila do Bispo), embora reutilizado durante o Calcolítico e para o qual possuímos cronologia absoluta. Esta foi estabelecida através de quatro datações de 14C, que, uma vez calibradas a 2 sigma, mostraram intervalos situados entre 3370 cal BC e 2460 cal BC (ICEN-844, 846, 847 e 848) (Gomes, 1994, 1997, p. 179-182).

Baseado neste ESTUDO de Mário Varela Gomes e Luís Campos Paulo