O Infante D. Henrique no Algarve, baseado num texto de Rui Manuel Loureiro
1416 - El-rei D. João I confia a D. Henrique o provimento e a defensão de Ceuta, que teriam de ser organizados a partir do litoral algarvio.
1420 – A pedido de D. João I, uma bula papal fazia de D. Henrique administrador geral da Ordem de Cristo nos reinos de Portugal, colocando nas suas mãos rendimentos bastante consideráveis, que lhe permitiram desempenhar cabalmente a defensão de Ceuta.
Os objetivos henriquinos, nestes primeiros anos de ligação ao Algarve, são essencialmente de caráter guerreiro na defesa de Ceuta.
Entretanto, o infante D. Henrique, nas suas deslocações periódicas ao sul do reino, começa a relacionar-se cada vez mais intensamente com as gentes algarvias e com as atividades marítimas. Pouco a pouco, ter-se-á apercebido da enorme importância do mar como fonte de rendimentos, ao tomar conhecimento dos enormes proventos auferidos na região com a pesca do atum e da corvina, com a apanha do coral, com as trocas comerciais com portos do Mediterrâneo, com a recolha de produtos de tinturaria e, sobretudo, com os saques derivados de incursões piratas. No reino do Algarve, o infante veio encontrar essas atividades já organizadas de longa data. O infante, como consequência direta das suas responsabilidades na defesa de Ceuta, descobria a importância geográfica e económica do reino do Algarve.
Os navios henriquinos, paralelamente ao socorro a Ceuta, começam a ocupar-se também com a pesca, com o comércio e com a pirataria, frequentando assiduamente o litoral atlântico de Marrocos. A pouco e pouco, os navios lusitanos foram avançando ao longo da costa ocidental africana, abordando regiões cada vez mais meridionais. Assim, de uma forma improvisada e inesperada, ter-se-á desenvolvido o interesse de D. Henrique pela exploração de regiões costeiras de África até então totalmente desconhecidas dos europeus.
As viagens rumo à África ocidental prosseguem a bom ritmo, dinamizadas não só pelo Infante mas também pela própria Coroa portuguesa e por simples particulares, alternando o descobrimento geográfico de porções desconhecidas da costa com a simples exploração comercial das riquezas africanas, ouro e escravos, sobretudo, mas também marfim, peles e óleo de focas, noz de cola, goma arábica, galos de algália, etc.
O aumento do tráfico impõe a criação de organismos próprios, encarregados de superintender ao apetrechamento das embarcações e ao escoamento dos bens importados.
Em 1460, à data da morte do Infante D. Henrique, os navegadores e comerciantes portugueses, sobretudo algarvios, já tinham estabelecido firmemente as bases de um tráfico pacífico e regular, numa vasta região compreendida entre Arguim (Mauritânia) e a Serra Leoa.