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O Algarve da Reconquista

O Algarve da Reconquista

O Algarve da Reconquista

 

Resultado de uma ofensiva na região meridional de Portugal, fruto de uma colaboração entre a monarquia e a Ordem de Santiago, a Reconquista constituiu o ponto de partida para uma série de conflitos diplomáticos com Afonso X de Castela, que imediatamente reclamou direitos sobre o Algarve. O contencioso acabou por ser resolvido pelo acordo de Badajoz, de Fevereiro de 1267, pelo qual o rei castelhano cedeu a D. Afonso III os referidos territórios, em troca de igual cedência lusitana em relação aos situados além Guadiana.

Tendo subsistido alguns pontos de conflito, estes vieram a ser global e definitivamente resolvidos, sobretudo em Setembro de 1297, com o Tratado de Alcañices, assinado entre D. Dinis e Fernando IV de Castela. Com a posse do Algarve, jogou-se o destino de Portugal independente. No fundo, D. Afonso III e D. Dinis percebem em que medida este novo enquadramento implica para o reino a necessidade de definir uma política naval. O Algarve protagoniza a maior parte destas coordenadas.

A igreja reconhece o importante papel de Portugal no combate aos infiéis.

Em 1319, D. Dinis obtém do papa a fundação da Ordem de Cristo, cuja primeira sede foi em Castro Marim, próximo da foz do rio Guadiana.

Em 1320, o mesmo papa - aludindo à atuação do rei D. Dinis e à contratação do genovês Manuel Pessanha para chefiar a armada portuguesa – equipara a armação de galés no Estreito de Gibraltar à cruzada, ou seja, legitima a estratégia naval da monarquia portuguesa.

Em 30 de Abril de 1341, o papa Bento XII, pelas bulas Gaudemus et exultamos, reforça esta mesma ideia. Ao conceder a D. Afonso IV a dízima das rendas eclesiásticas do reino para a cruzada contra Marrocos e Granada o Sumo Pontífice faz novamente referência à política do rei de Portugal de criar uma força naval permanente.

Como se vê, o Algarve cristão da segunda metade do século XIII e do século XIV tem uma significativa importância na forma como o reino é então entendido e assumido politicamente pela monarquia.

Este Algarve recém entrado na órbita da Cristandade apresenta-se socialmente heterogéneo. Para além dos povoadores cristãos, é muito significativa a população muçulmana e está documentada a existência de judiarias.

Verdadeiramente, nesta altura só existe uma cidade: Tavira.

Por outro lado, há um numeroso grupo de portos marítimos, de Odeceixe a Castro Marim.

Vislumbra-se uma certa debilidade na economia da região. Revelador desta realidade é o facto de, no conjunto das cerca de meia centena de feiras existentes no país em meados do século XIV, apenas está registada a de Loulé, determinada por D. Dinis por carta de Julho de 1291. Das fundadas posteriormente (até 1475), não há nenhuma algarvia.

Conhece-se mal a rede de estradas no Algarve da época. As poucas vias de comunicação das relações comerciais inter-regionais que ligavam a região ao Alentejo são escassas e difíceis. Destaca-se a subida do rio Arade até ao Alentejo.

Mesmo para os padrões da época, o Algarve está longe do país. De facto, é difícil cá chegar. Quando conjugados outros elementos complementares, o caráter de periferia acentua-se ainda mais.

Dadas as debilidades profundas das estradas e dos caminhos, ressalta a importância das rotas marítimas com a Andaluzia e Marrocos.

Embora não se conheçam elementos pormenorizados, não custa a crer que, à semelhança do que aconteceu por toda a Europa, a crise do século XIV se tenha traduzido numa acentuada diminuição do ritmo de crescimento, inclusive a estagnação demográfica. O sul algarvio tão pouco teria escapado à célebre peste de 1348 e ao consequente despovoamento.

A Lei das Sesmarias, reveladora da situação difícil que carateriza o Portugal de meados do século XIV, foi pensada para o conjunto do país mas teria uma aplicação muito direta ao Algarve.

Assim, a integração do Algarve no conjunto do reino não teve lugar numa conjuntura de crescimento global como a que caraterizou a evolução europeia até finais do século XIII. Coincidiu em grande parte com os tempos difíceis que caraterizaram o século seguinte.

Assim se explica a forma como o Algarve entrou nos grandes circuitos marítimos internacionais no decorrer da segunda metade do século XIV e o modo como esta mesma região veio a protagonizar a primeira expansão atlântica já no século XV.

O litoral algarvio marca a evolução da economia marítima e do comércio de todo o reino na Baixa Idade Média.